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Todos os dias, ele se colocava por horas na varanda de sua casa, olhando
para o horizonte. Ninguém sabia no que ele pensava, ou se apenas conversava com
seus pensamentos, procurando respostas para aquela dor que só fazia aumentar com
o passar dos dias. O certo era que desde a partida de seu filho, a ausência de
noticias e a incerteza que tinha em seu coração, se tudo estaria bem com ele o
matava aos poucos.
Todos os dias o ritual era o mesmo. Sentava-se pela manhã e pela tarde, sempre
no mesmo horário. Esperando o dia que alguém aparecesse e lhe trouxesse
noticias.
Um dia, sentado em sua cadeira de balanço, olhando para o mesmo horizonte,
ele avistou um homem, vindo ao longo do estreito caminho que dava acesso a sua
fazenda. Era um homem franzino, com cabelos longos, barba abaixo do queixo, maltrapilho
e cabisbaixo. Caminhava bem devagar, como se não tivesse forças pra chegar ao
lugar ao qual ele estava peregrinando. Aquele senhor pôs-se a observar aquele
rapaz, e quanto mais ele se aproximava, mais os seus olhos se arregalavam, fixos
a cada passo e a cada movimento que lhe lembrava algo familiar.
Pensou: - Como pode ser tão parecido! Mas ele saiu e disse que jamais voltaria. E
como poderia está assim? Tão destruído e fracassado. Não pode ser el...
Seus pensamentos foram interrompidos quando aquele rapaz levou as mãos até
o cabelo, tentando se ajeitar. Provavelmente sentindo a necessidade de se recompor, procurando disfarçar a aparência assustadora que ele transmitia por onde passava, denunciando-O.
É um mendigo.
Aquele senhor imediatamente o reconheceu.
- É ele! claro que sim. Esse gesto é simplesmente inconfundível.
Seu impulso foi indescritível. Ninguém saberia afirmar se era alivio; saudades,
alegria ou regozijo. Mas, a primeira coisa que lhe veio à mente foi correr para alcançá-lo.
E assim ele fez, quando se encontraram próximo à porteira de sua fazenda, pararam
um de frente para o outro. O pai olhou profundamente aqueles olhos lacrimejantes,
estendeu os braços e disse.
- EU TE PERDOO
“Ele nos ofereceu
Graça, antes mesmo de haver gerado em nós arrependimento. E pra cada dia de
vergonha, concedeu-nos amor Incondicional.”
Adde Gomes